neste espaço reúnem-se textos que me podem servir de apoio, de várias áreas: pintura, escultura, ourivesaria, iconografia, iconologia, heráldica, emblemática, arquitectura, peritagem e avaliação de obras de arte, conservação e restauro...
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Livro de Horas de D. Manuel


A obra “Livro de Horas de D. Manuel. Estudo introdutório de Dagoberto Markl” é uma análise artística e iconográfica das iluminuras contidas no Livro de Horas dito de D. Manuel, que acusam forte influência da escola granto-bruguense da oficina Bening e do iluminador Gerard Horenbout.
Até meados do século XV o gosto português orientava-se pela via nórdica, alimentado com a presença portuguesa em Antuérpia, de Luís Brandão Silvestre Nunes e Rui Fernandes de Almada (que recebeu um S. Jerónimo de Dürer) e das feitorias.
 
Entre a aclamação de D. Manuel em 1495 e a morte de D. João III, a iluminura (manuscritos iluminados) marcou presença em forais, Cartas de Nobreza, Compromissos de Misericórdias e mapas cartográficos. Precisamente em 1495 é editado em Lisboa por Nicolau da Saxónia e Valentim Fernandes, a Vita Christi, um peculiar incunábulo português, coincidindo, assim, a época áurea da iluminura com a emergência do livro impresso.
Markl anuncia dois factores importantes para o florescimento da iluminura. Por um lado, nos finais do século XV aparecem em Portugal três obras iluminadas: A Bíblia dos Jerónimos de Attavante degli Attavanti, e o Livro de Horas de D. Leonor e o Breviário Mayer van der Bergh, ambos atribuíveis a Alexander Bening. O outro factor é a vinda para Portugal do mestre iluminador António de Hollanda.

Se algumas peças foram sempre fruto de encomendas personalizadas, com o desenvolvimento do mercado de arte, os artistas passaram a manter um stock nas suas oficinas. Manuscritos e iluminuras, vendidos normalmente completos num Livro de Horas, eram executados faltando apenas os elementos heráldicos do futuro proprietário, tarefa que podia ser executada no país destinatário. Apesar de D. Manuel ordenar a inclusão dos seus símbolos, o escudo de Portugal, esferas armilares e a cruz de Cristo, em tudo o que encomendava, este Livro não os contém.

Os Livros de Horas continham pequenos textos para serem recitados nas oito horas canónicas, e a sua popularidade deveu-se ao facto de servir laicos. O leitor era encorajado a meditar na vida de Jesus, da Virgem e dos Santos. Outra passagens promoviam a penitência e preparação para a chegada inevitável da morte.

O Livro de Horas dito de D. Manuel inicia-se com as Notas de Cômputo ou Tábuas Astrológicas: representações que estavam intimamente ligadas a aspectos científicos dos descobrimentos. Desta forma, monarcas e príncipes podiam exercitar cálculos astronómicos simplificados.
O ciclo solar dava, pela Letra Dominical, os domingos do ano. Encerra em 28 anos e repete indefinidamente a sucessão.
O ciclo lunar segue a ocorrência dos plenilúnios (primeiro dia de lua cheia) e a revolução sinódica da lua (meses).

 Folio 1 Ciclo lunar ou Metoniano (Méton, astrónomo ateniense que inventou este ciclo no século V a.C.)

“… Saberes que em este ano de 1517 anda o ar numero XVII, começando na primeira casa depois da cruz e daí anda cada ano em uma casa ate que chega a XIX, e tornas outra vez a contar I, II, III até chegar a XIX, e não tem mais conta …”

 Folio 3 Ciclo solar, Letra Dominical
“… Hás-de saber que neste ano de 1517 anda a letra dominical D começando na primeira casa depois da cruz, e onde quer que estejam duas letras, é ano bissexto …”

Estes eram os meios para averiguar a data da Páscoa e restantes festas, e para nós, a execução destes catálogos permite datar os Livros de Horas.

Os fólios seguintes contêm iluminuras para os meses do ano com cenas das actividades do quotidiano das classes sócias, dependendo do estatuto: as que se entregam ao prazer permanente e as que labutam ao serviço das primeiras. Fornece importantes informações de carácter local, permitindo determinar a origem do livro, neste caso, nórdica.

Folio 5 Janeiro

A organização dos calendários é semelhante nos vários códices. Nos folios que contêm as iluminuras há um quadro central com uma cena que se justapõe sobre outra cena relacionada com a primeira. As laterais têm o nome de tarjas e a da parte inferior bas-de-page.

Folio 56 v  Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel
 
Quanto às cenas, podem ser alusivas às actividades dos meses, cenas da bíblia, nomeadamente os santos, suas vidas e martírios, e a decorar algumas tarjas encontramos elementos fitomórficos, zoomórficos, arquitectónicos, decorativos…

Folio 268v  S. Bartolomeu

Folio 292 v  S. Bento

Folio 301 v  Evangelho de S. Marcos
 
O Ofício dos Mortos é uma iluminura interessante, que tem por fim uma meditação do possuidor do livro.

Folio 129 v O ofício dos mortos
 
Códices importantes
Riquíssimas Horas do Duque de Berry, dos irmãos Limbourg 1413
Breviário Mayer van den Berg 1497
Livro de Horas de Isabel, a Católica 1491-92
Livro de Horas ddo Conde-Duque de Olivares 1505
Breviário Grimani 1515
Livro de Horas dito de D. Fernando 1530
Horas de Nossa Senhora ditas de Hennessey 1530

Bibliografia
DESWARTE, Sylvie – Leitura Nova de Dom Manuel I. Lisboa: Edições Inapa, 1997.
MARKL, Dagoberto – Livro de Horas de D. Manuel. Lisboa: Edição sob os auspícios do comissariado para a XVII exposição europeia de arte, ciência e cultura, 1983.
SMITH, Jeffrey Chipps - The Northern Renaissance. Phaidon Press Limited, 2004.



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